18 de novembro de 2014

Idealizador do Jornal do Professor explica o surgimento do periódico

Por Núbia Alves 

Professor de jornalismo da Universidade Federal de Goiás e idealizador do Jornal do Professor, no Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás, Juarez Ferraz conta sobre como surgiu o periódico e ressalta sua importância como ferramenta de integração entre os colegas de trabalho. Juarez conta ainda sobre o processo de produção do jornal e sua linha editorial isenta de posições políticas.

Núbia Alves: Professor, como surgiu a ideia do Jornal do Professor?

Juarez Ferraz: Tivemos a greve em 2012 e, durante os debates da greve entre o sindicato e oposição, assembleias muito quentes na época, polarizadas, dois grupos diferenciados, e eu notei que faltava alguma coisa para os professores. É que normalmente os professores não conheciam a outra unidade do colega e os professores não se conheciam uns aos outros. Muitas vezes encontrava no corredor “ah, aquele é da faculdade de biologia”, “aquele é da química”, mas no fundo, no fundo, não tinha alguma coisa que unificasse os professores e que você aos poucos vai conhecendo o que os professores fazem, vendo no jornal a entrevista dele, outro colega da física, da quimica, das ciências sociais. Então eu vi que durante a greve faltava alguma coisa que unificasse os professores e essa unificação não significava união politica e ideológica, não. É unificação acadêmica no sentido de que você precisa mostrar pro seu colega do lado, da universidade, aquilo que você produz, aquilo que você faz. 

Esse é o primeiro ponto, o segundo era ter um orgão onde as pessoas debatessem as ideias, os contrários pudessem se confrontar, por isso uma das páginas mais importantes do jornal é a opinião. Tem opinião a favor e opinião contra e isso é interessante, precisava ter um organismo onde os professores debatessem e houvesse tolerância de opinião. 

Outro ponto é que o sindicato existe há muitos anos, tem 36 anos e nunca houve um orgão capaz de passar várias diretorias, sempre começava uma coisa e acabava, mas não era um jornal do professor, eram publicações do sindicato, aquela coisa bem ofical. Nós resolvemos dividir isso, o que fica pro ADUFG, oficial, é o boletim, que vai pra internet, não é impresso, vai para o email de todo mundo. O jornal, não, ele é do professor, tem tolerância editorial, nunca vai puxar o saco do presidente do ADUFG porque não é a função dele, a função dele é debater ideias. Então esse é o terceiro ponto, é um local de tolerância de ideias em que não é um jornal oficial.

E concluímos também depois do final da greve que, se nós tivéssemos um jornal dessa natureza, ele poderia seguir 10, 20, 30 anos, porque não é um jornal “chapa-branca”, com propaganda e marketing pra diretoria, é só financiado pela ADUFG, mas com corpo editorial independente. Foi isso que aconteceu, nós fizemos uma fundamentação, fiz um projeto naquela época para a diretoria da ADUFG e, é lógico, houve muito debate em torno do projeto, porque é um projeto arriscado, não é um projeto que vai defender só os interesses da diretoria, pode ter opiniões contrárias à diretoria e isso que é importante, mas a Rosana Borges, na época era presidente do sindicato, ela deu todo o apoio, achou que era uma ideia realmente inovadora, no sentido que você tem uma coisa que seja de unificação e não de divisão.

NA: E o jornal é único no país entre os sindicatos, não tem outro nos moldes do Jornal do Professor?

JF: Não, não tem. Se você for analisar os jornais dos sindicatos no Brasil, você vai ver que todos são “chapa-branca”, defendem uma posição, enquanto que o Jornal do Professor é tolerante editorialmente, pra ele sair, não depende que fulano dê isso, faça isso ou aquilo outro. Por isso sou eu que faço a pauta do jornal, sentamos com o Mac e com o Fred, mas sempre com esse espírito de buscar formas diferentes de pensamentos, ideias diferentes. E, depois, os jornais quase todos dos sindicatos eram muito cheios de princípios ideológicos, defende uma corrente do Partido Socialista Unificado, PSOL, PT. Esse jornal é um jornal que representa as várias tendências que existem na comunidade acadêmica.

Apresentamos um projeto numa reunião formal da diretoria, mostramos os pros e os contras, não é fácil fazer um jornal dessa natureza e queríamos fazer um jornal impresso. Havia uma corrente que pensava fazer um jornal para a internet e eu disse não, nós o colocamos na internet depois, mas primeiro chega na casa do professor. Porque existe ainda um filão enorme de pessoas que gostam de ler jornal, pegar na mão, folear tudo isso. Foi aprovado o projeto, esmiuçamos o conteúdo e partimos para poder fazer a montagem da equipe. Fizemos o concurso e o Mac foi escolhido como o nosso jornalista e depois veio o Fred, que era estagiário da ASCOM na época. 

NA: E como foi a receptividade do jornal no meio docente, qual o retorno que o jornal tem perante os professores?

JF: O interessante é que o jornal teve um impacto danado desde o principio na comunidade acadêmica pela política editorial, pela tolerância das ideias diferentes. E segundo, os professores viam seus colegas com a fotografia deles, os textos deles, não viam a reitoria, não viam o presidente do sindicato, viam os colegas. Outra coisa foi a parte central do jornal, professor entrevista professor. Então o jornal teve um impacto nas duas posições diferentes, nas duas correntes de pensamento que compunham a universidade em relação ao sindicato. E de repente começou a ter pessoas que ligavam para agradecer pelo jornal, começavam a mandar email e depois o jornal passou a sair da universidade, pelos próprios professores, e passou a receber feedback de figuras importantes do jornalismo goiano. Outra coisa foi que muitos professores escreveram para lá dizendo que o jornal não podia ficar restrito à faculdade, tinha que ir para vários escritórios de advogados, de médicos, porque ele trazia temas de interesse para a comunidade. (Agência de Notícias UFG)

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